segunda-feira, 13 de maio de 2013

AMADURECER

Foto: autor desconhecido

Amadurecer. Endurecer no amor. Firmar o amor ao solo. Tomar posse dele e não deixá-lo escapar, sob nenhuma possibilidade. Amadurecer não é endurecer o coração. Não. Amadurecer é se endurecer nele, no amor, como criança que endurece o corpo fazendo birra. É fazer birra para não deixar o amor ir embora. É fazer birra pra não ir embora da vida sem experimentar, viver e espalhar o amor. Amadurecer é permitir que o amor crie raízes e cresça em nós. É doer, isto é verdade. Mas é suportar a dor do amor com a certeza de que esta sempre vale a pena. Amadurecer é deixar-se crescer. É substituir os traumas, os medos, as inseguranças, receios, ansiedades e preocupações pela beleza que o amor, a tranquilidade, a confiança e a esperança são capazes de nos dar. Amadurecer é permitir-se enfrentar as durezas da vida e não fugir delas. Amadurecer é endurecer o corpo quando o medo aparece. É firmar as pernas, sem deixar que elas vacilem o nosso passo. É enfrentar a realidade, boa ou ruim, com a certeza de que o enfrentamento pode nos trazer desafios, mas muito mais força e coragem nos dará. Amadurecer é decisão, não é acaso. E escolher aprender com a vida, olhar de frente, encarar nos olhos. Acima de tudo, é se enrijecer no amor a si mesmo. É olhar pra dentro da gente e reconhecer quem somos. É nos encontrar de verdade e aceitar quem se é. É não se cobrar em excesso, é se permitir ser quem é. Amadurecer é amar aos outros através da nossa capacidade de amar quem somos. É confiar que vale a pena viver tudo o que se tem pra viver. É não temer dificuldades, sabendo que ela nos prepara para melhor encontrar as soluções. É chorar quando for preciso, mas sorrir na maioria das vezes. Amadurecer é permitir-se feliz, agradável, próspero, livre. Amadurecer é ter a liberdade e usá-la em favor de nós mesmos e dos outros. Amadurecer. Acontece imediatamente quando dentro da gente decidimos ir em frente, não recuar. Amadurecer acontece naquele exato momento em que você acha que não vai dar conta, que não é capaz, que é frágil, mas que ainda assim decide arriscar. O risco amadurece. Assim como amar. Amar é um risco, é verdade. Risco de ser rejeitado, risco de não ser correspondido, de ser decepcionado. Mas amar é acima de tudo amadurecer, sabendo que o amor está justamente no ato de amar e não naquilo que ele proporciona ou deixa de proporcionar. O bonito do amor acontece quando amadurecemos o suficiente para compreendê-lo. Esta doação que é o amor é doação, não precisa de nada em troca. Ela acalenta a alma, liberta das nossas prisões e é capaz de transformar o nosso jeito de olhar pro mundo e pra nós mesmos. Amadurecer. Endurecer no amor, fincar o pé na decisão de amar a todos, inclusive a si mesmo. Amar de verdade, por inteiro. E com isto ouvir, perdoar, doar o tempo, a atenção acima de tudo. Ama-durecer.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

NAS MÃOS DO OLEIRO

Foto: autor desconhecido

Não, não estou pronta. Mas na maioria das vezes penso estar. Quando penso, me frustro. Frustro pelas rachadura que ainda não foram fechadas e tantas que insistem em abrir ainda mais, ameaçando a construção de quem eu sou. Frustro quando olho para os lados tortos, as bordas arranhadas e um formato que eu não gostaria de ter, como se eu pudesse escolher a minha forma melhor do que quem me fez. Não, não estou pronta. Preciso me lembrar disto a cada vez que vejo minhas fraquezas, que esbarro em minhas misérias. Não, não são erros. Sou esculpida por uma mão que não falha, que não erra e que sabe muito bem a preciosidade que eu sou e vou me tornar. Eu é que me olho erroneamente. Me vejo superficialmente, com um olhar tão míope, tão distorcido que sou incapaz de perceber o quanto é lindo este meu interminável processo de feitura. Sim, interminável. O oleiro que me toma em suas mãos é perfeccionista, não faz nada que saia errado e está sempre atento aos detalhes. Muitas vezes me amassa toda de novo e recomeça o trabalho. Quando há rachaduras, não pensa duas vezes sem me desmanchar por inteiro e fazer tudo novo. E eu mesma, quantas e quantas vezes, estrago o seu acabamento perfeito,com minha mania de controle, de tomar o rumo das coisas e insistir ser aquilo que não fui criada pra ser. Um vaso, um vaso nas mãos do oleiro. Inacabado, mas lindo. Lindo porque perfeito é este processo de feitura. As mãos úmidas no barro, esculpindo a minha história,construindo o meu caminho, a minha vida. Me enchendo de tudo aquilo que serei capaz de carregar sem fardo, sem peso,apenas grata pela utilidade que Ele me deu. Não, não estou pronta. E que bom que não esteja. Assim, não tenho o compromisso de ser perfeita, nem serei. Assim, posso olhar pra minhas fragilidades na certeza de que serão fortalecidas, moldadas, aperfeiçoadas pelo caminho. A mim, basta me permitir. A mim, basta me entregar nas mãos deste que tem todo o amor e paciência em me fazer, em me tornar aquilo que Ele quer. Posso não ter a forma que escolhi, posso não estar pronta no tempo que determinei pra mim. Mas quando penso no oleiro que me toca, ainda que seu toque seja pesado demais em alguns momentos, percebo que sou capaz de ser a mais perfeita obra da terra. Única, amada, planejada e feita com total dedicação. Ele não se cansa, então eu não posso me cansar. Se Ele não desiste de mim, eu jamais tenho o direito de desistir. Se Ele me olha com os olhos de quem faz uma obra prima, quem sou eu para acreditar que já não sou. Não, não estou pronta. E neste processo não quero ser impedimento ou barreira, mas quero colaborar com meu oleiro. Quero ser moldada, refeita, restaurada, desmanchada se preciso for. O seu trabalho em mim não pode ser em vão. Ele sonhou comigo. Ele me ama. Ele já separou um espaço pra mim na prateleira de suas mais preciosas obras. Está lá, vazio, guardado, pronto pra me receber. E eu quero estar. Por mim, por Ele, por todos aqueles que investem neste processo de ser quem sou. Eu me permito. Eu te permito trabalhar em mim. Vem, molda-me. Faça-me. Refaça-me. Usa-me. Enche-me. Sou tua, em tuas mãos estou. Faça como quiser e me ajude a aceitar a força e o cuidado de tuas mãos. Ora leve, ora firme. Cada toque no seu tempo. Cada um tem seu propósito. Não temerei. Que eu seja o vaso novo que sonhou. Que eu ocupe o espaço que reservou pra mim. E que eu me alegre em todo este processo e ajude a tantos outros a perceber que vale a pena.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

VASINHOS PRECIOSOS

Foto: autor desconhecido
Obrigada por terem existido. Obrigada por terem trazido esperança e alegria aos nossos corações. Obrigada por revelarem o milagre da gestação de múltiplos idênticos na nossa família. Obrigada por terem brigado pela vida ao longo destes meses. Obrigada por terem resistido a tanta dificuldade ali, dentro do útero, somente para cumprir aquilo que Deus as colocou como missão. Obrigada por inundar o nosso coração de amor e por nos ensinar que sim, somos capazes de amar alguém que nem conhecemos de maneira grandiosa. Obrigada por devolver a esperança aos nossos corações, por reacender a chama da nossa fé, por nos colocar diante da luta, ainda que com medo, mas com a certeza da vitória de Deus. Obrigada por mostrarem à mamãe o quanto ela é amada, querida, por tantos e principalmente por Deus. Obrigada por fazê-la forte, guerreira, uma mulher virtuosa e tão cheia de fé. Obrigada por trazerem a alegria ao coração dos seus irmãos. Obrigada por amolecerem o coração do seu pai, por inundá-lo de amor a ponto de derramar pelo olhos o quanto ele as amava. Obrigada porque todos nós fomos capazes de amá-las, simplesmente porque vocês cumpriram o propósito de Deus. Obrigada por nos tornar, a todos e tantos, guerreiros de oração e nos mostrar que Deus nos ouve, nos sustenta, nos ama, nos acolhe e nos dá forças nos momentos em que parecemos ainda mais fracos. Obrigada por todas as lágrimas que derramamos. Obrigada por todos os medos que sentimos, obrigada por me ajudar a enfrentar os meus com coragem e determinação, que há tanto tempo não tinha. Obrigada porque mesmo com medo de perder cada uma de vocês, minhas primas-sobrinhas, com medo de perder a mamãe- minha grande amiga, vocês me deram a chance de me submeter à vontade do Pai e a sua Soberania. Obrigada por me ensinarem a ser uma melhor intercessora. Obrigada por me ajudarem a aumentar a minha fé. Obrigada por me ajudarem a ser uma futura mãe mais forte do que pensava ser capaz de ser. Obrigada porque em meio a tantas dificuldades em que foram gestadas e mesmo em tão pouco tempo, fomos capazes, cada um de nós, de aprender muito com cada uma de vocês. Cada perda nos ensinou a persistir ainda mais e a glorificar a Deus pelos seus propósitos que nem sabemos direito quais são, mas já os recebemos de braços abertos. Obrigada pela oportunidade de crescermos um pouco mais. Obrigada por terem polpado a vida da mamãe, porque sem ela sofreríamos ainda mais que agora. Precisamos muito dela aqui. Obrigada, obrigada, obrigada Julia e Beatriz. Vocês foram vasinhos frágeis nas mãos do nosso Oleiro. Mostraram que não importa o tamanho do vaso, a sua fragilidade, mas que sempre e sempre Deus é capaz de transbordá-lo e usá-lo para o nosso bem. Obrigada porque sabemos que as tribulações que passamos agora não se comparam a tudo o que está por vir. Maravilhoso é experimentar tudo isto agora, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, mas com o coração tranquilo e confiante em Deus. Obrigada, Senhor! Obrigada por me ensinar tanto e tanto e tanto. Obrigada por tudo. Obrigada por estas duas vidinhas que se foram, eu as amei e por este amor fui capaz de aprender tanto e o quanto o Senhor me ensinou. Obrigada por ensinar a cada um de nós e nos permitir transformados pelo Teu amor. Obrigada pela vida da minha amiga que eu tanto amo. Obrigada por preservá-la da morte e por devolver vida a ela.Obrigada por fazer dela como Jó, que é capaz de perder tudo sem perder a sua fé. Obrigada, porque sei que ela se levanta ainda mais forte deste deserto. Obrigada pelas maravilhas que o Senhor fará a partir de tudo isto. Sabemos que teus propósitos são bons, maravilhosos e grandiosos para aqueles que os ama. Então, ei-nos aqui. Faça cumprir o Teu querer em nossas vidas e em especial, completa a Tua obra que começou com a Julia e a Beatriz, mas que com certeza não acabou junto delas. Obrigada Jesus!

segunda-feira, 18 de março de 2013

GUERREIRA

Foto: autor desconhecido


Para ser guerreira não preciso usar armaduras. Não preciso de cara fechada. Não preciso endurecer o coração. Ao contrário, o coração deve ser flexivel o suficiente para equilibrar todas as emoções que eu sinto aqui dentro. Para ser guerreira eu não preciso de grandes e extremas superações. Não preciso de um milagre que modifique minha vida,simplesmente preciso de uma força que me impulsione a mudar. Para ser guerreira eu preciso reconhecer-me frágil. Eu preciso reconhecer que não sou auto suficiente e nem tão pouco tenho superpoderes. Para ser guerreira eu preciso transpor meus limites dia a dia, mas antes disto, aceitá-los e respeitá-los. Para ser guerreira eu preciso abrir os olhos, principalmente para mim mesma. Eu preciso enxergar a vida mais colorida, mais cheia de vida. Para ser guerreira,eu preciso conhecer a mim mesma e admirar aquilo que sou. Para ser guerreira eu não preciso deixar de ter medo, mas ter coragem suficiente de superá-lo a cada instante. Para ser guerreira preciso perceber, eu mesma, os desafios que sou capaz de enfrentar ainda que pequenos. Não preciso de reconhecimento do outro e muito menos de provar a guerreira que sou. Para ser guerreira eu preciso olhar no espelho, virar as páginas da minha vida e ver o quanto já fui capaz de superar. Olhar adiante com coragem e viver o presente com ousadia e alegria. Para ser guerreira eu não preciso ser esposa, namorada, mãe ou filha, preciso apenas existir e fazer disto o melhor que eu puder fazer. Para ser guerreira eu preciso ser livre. A liberdade é a arma das guerreiras e usada sem força, apenas com sabedoria, já é suficiente para me tornar a guerreira que posso ser.

domingo, 10 de março de 2013

AO CÉU

Foto: autor desconhecido


Decidi abrir as gavetas da minha alma.Emperradas, velhas, cheias de quimquilharias. Decidi abrir uma a uma com cuidado, revirar cada memória, cada gesto, cada instante. Coisas que guardei e que não uso mais. Outras que havia me esquecido de usar e que são parte da minha essência, do que me faz bem. Decidi pegar cada coisa, um a um. Revirar as gavetas dói, eu confesso. O coração dispara,as vezes falta o ar, resultado da poeira que coisas velhas e fora de uso causam na vida da gente. Mas é preciso enfrentar, jogar fora o que não presta, guardar o que vale a pena e usar aquilo que nos fez tanta falta e nem sabíamos que o tínhamos guardado. Revirar as gavetas, exige preparo e atenção. Cuidado consigo mesmo, uma boa dose de amor próprio e acima de tudo desapego. Também é preciso humildade para admitar as próprias misérias, compreender-se frágil e se aceitar assim como é. Abrir as gavetas da alma é como estar diante de um grande espelho que lhe apresenta a si mesmo. É não ter medo de amadurecer, é ter coragem de se conhecer, ainda que conhecer a si mesmo muitas vezes seja tão desconfortante. É, não é fácil. Tão menos do dia pra noite. Decidi abrir as gavetas da minha alma, mas o faço todos os dias já há alguns meses. Não,não decidi sozinha. É que emperradas que estavam, como eu disse, estavam travando as gavetas que mais uso, me impedindo de ir em frente. Não dava pra seguir a vida com estas gavetas velhas como estavam. Por isto, decidi abri-las e iniciar a limpeza da minha alma tão cheia de coisas pra viver. Retirar os excessos que me fazem mal. Admitir tudo aquilo que tenho de bom e que deixei de lado. Assumir minhas responsabilidades com a certeza que embora imperfeita sou capaz de realizar grandes e belas coisas. Decidi abrir as gavetas da alma e quando pensei que só encontraria coisas inúteis, descobri vários sonhos. Encontrei um lado lindo que eu havia esquecido que tinha. Uma alma bela, cheia de vida e transbordante de amor por si mesma e ao próximo. Um amor a Deus que não dá pra explicar, apenas sentir. Todos os dias abro uma gaveta nova. Jogo fora o que não presta, o que não vale a pena. Guardo as boas memórias porque são importantes para me motivar a seguir em frente e não esquecer quem eu sou. E levo comigo, a cada instante, as verdades de quem eu sou e pelas quais vale a pena insistir, seguir, investir. Os meus sonhos, todos aqueles que encontro, coloco em balões de gás, bem coloridos e os solto no ar. Sei que comigo, guardados, não são muita coisa, mas que aos braços de Deus, voando ao céu, eles ganham asas, deixam de ser sonhos e me levam a os realizar.

sábado, 2 de março de 2013

AO VOVÔ

Foto: Marilu Pimenta

Ontem você se foi. Se foi do nosso dia a dia, da sua poltrona na sala, da mesa do truco com os amigos. Se foi da calçada, do banco da praça, da coxinha com coca cola, seu cardápio favorito. Ontem você se foi, mas não foi embora da gente. Ficou inteiro aqui no nosso coração. Das lembranças dos nossos almoços de domingo. Nas festas e danças com a vovó. Das lembranças de suas histórias tão ricas em memórias e lucidez. Ficou a sua integridade, honestidade e dignidade em cada filho, como orgulho e exemplo em cada neto. Aos bisnetos, ainda jovens e os que ainda não vieram, contaremos o grande homem que foi durante seus praticamente cem anos. Isto não é pouca coisa. Viver um centenário sem manchas, sem situações que te retirem o respeito dos outros, é coisa rara. Nem o seu jeito bravo, a teimosia, a dificuldade em abraçar e demonstrar afeto, tiram de você a certeza de ter sido amável e carinhoso ao seu modo. Confesso que muitas vezes senti falta de lembranças em colo de avó, de abraços apertados, coisa minha. Mas você, vovô, foi o meu único avô e muitas vezes o pai que a minha mãe não teve o direito de conhecer. E isto nos fazia amá-lo ao nosso modo, as vezes tão cheio de dificuldades de aproximação, de afeto, sem saber se o senhor gostaria ou não, mas tão cheio de vontade de acolhê-los em nossos braços a cada momento. Um grande homem, um grande exemplo, que não se perde com a morte. Ela não é capaz de levar embora uma vida tão rica em conteúdo e boas lembranças. Em cada filho, está muito de você. As vezes no temperamento um pouco difícil, mas acima de tudo, nos grandes homens, pais e mães, que eles só são capazes de ser através do exemplo que o senhor e a vovó foram capazes de dar. Em nós, netos, fica um desejo enorme de que nossos pais possam viver tanto e tão bem quanto o senhor. Um desejo que parece um grito de socorro, pra que nenhum deles vá embora antes do tempo, este tempo longo, centenário, que você nos ensinou que é capaz de acontecer com vitalidade, lucidez e saúde. Tomara Deus que ouça as nossas orações e dê a eles um pouco desta genética e desta vida regrada, sem vícios, que o senhor foi capaz de ter. Ontem você se foi, fisicamente apenas, porque seu corpo pediu descanso. Os ossos, os músculos, os órgãos, tudo precisava descansar num repouso eterno, sabemos disto. Sua alma, embora amasse viver, talvez estivesse também cansada de tantas histórias, lutas, desafios, conquistas e tanta vida. E então, chegou a hora. Ficou a gratidão eterna a Deus pela sua vida e tudo o que vivemos juntos. Ficou a saudade que vez ou outra baterá mais forte mas será confortada pelas boas lembranças e pelo amor e convívio entre cada um de nós, frutos da sua vida. Ficou muito mais do que foi, vovô. Pode ter certeza. Fica as memórias das nossas conversas, a minha cabeça de banana, a nossa última conversa ainda que curta, embora eu seja a faladeira, como o senhor mesmo concordou. Obrigada por esperado meu casamento, por ter vindo algumas vezes em minha casa e por rirmos algumas vezes de suas histórias. Obrigada por tudo, vovô. E não tenha dúvidas de que te amei muito e ainda amo no meu coração. Meus filhos, que ainda nem vierão, saberão quem você foi e o terão como exemplo, pode ter certeza disto. Agora, descanse em paz, porque viveremos e faremos o possível para que nossa vida valha tanto a pena quanto valeu a sua.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

ESTA LEVEZA

Foto: Getty Images

Esta leveza que tanto falo, que tanto busco. Esta leveza que muitas vezes foge, restando o peso da sua ausência. Esta leveza que algumas vezes volta, me visita, me invade, me sopra pra longe de tudo aquilo que parecia peso, dificuldade. Esta leveza, este sopro de Deus, que nos deixa suaves, agradáveis, trazendo frescor à nossa alma e à alma daqueles que passam por nós. Esta leveza contagiante. Esta leveza que falo, que busco, que hoje eu sinto. Uma leveza que tira meus pés do chão, o peso dos ombros, espanta os maus pensamentos e me invade com uma alegria tranquila e repleta de paz. Ah, esta leveza! Não sei viver sem ela. Mesmo que não venha todos os dias, que não seja constante, ah como eu gostaria que fosse. Ainda assim, me visitando aos poucos, eu agradeço a sua presença em mim. Porque esta leveza experimentada é o que me ajuda a carregar os pesos que são necessários depois, não curvada, mas voando...leve. Leve como os cabelos finos de uma criança, como um voo de parapente. Leve como os dentes de leão, voando com o sopro do vento. Leve. Leve é o que quero ser.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

PRONTO PRA VOAR

Foto: autor desconhecido

Por entre as frestas, espiava o mundo lá fora. O céu azul, o sol radiante. A vontade de sair voando, alto e com o destino de ser feliz, livre. A liberdade, seu sonho e também seu receio. Não que soubesse, mas o receio o impediu de aproveitar as chances que teve de escabar pra liberdade. O conforto da acomodação o deixava seguro. A liberdade, embora desejada, tinha seus riscos e suas responsabilidades. Ser livre é correr riscos sabendo que vale a pena. É assumir a própria vida, fazer suas escolhas. Por entre as frestas, espiava sua vida de uma forma diferente. Sonhava. Criava. A vida passou por entre as frestas, mas não acabou ali. A porta aberta agora, o convidava a coragem. A porta aberta o chamava para o lado de fora e viver tudo o que estava ali dentro de si mesmo. Era a hora, agora. Parou na porta, olhou a redor. Bateu medo, euforia,alegria, insegurança. Tudo junto, ao mesmo tempo. Não sabia como seria dali pra frente, mas sabia-se feliz e isto assustava mas não o impedia de seguir adiante. Parou na porta, pra respirar a liberdade. É preciso respirá-la primeiro antes de se jogar. E assim, aos poucos, foi se preparando. Bateu as asas, ensaiou o vôo. E de repente, quando menos esperava, sentiu-se cheio de coragem. Saltou para a realidade dos seus sonhos, para viver tudo aquilo que já estava ali, diante dele, esperando pra acontecer. Voou pra bem longe, sem saber que este voo o levaria para muito além de tudo aquilo que um dia sonhou.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

SAUDADES ME LEVAM ALÉM

Foto: autor desconhecido


Tenho saudade de pessoas, de momentos, sentimentos, lugares. Saudades dos que já se foram, de uma forma ou de outra. Saudade dos que ficaram mas me apertam com suas ausências. Saudade dos sonhos que tive e não realizei, principalmente aqueles que abandonei. Saudade daquele momento em que me encontrei comigo mesma. Saudade daquele lugar onde eu pude estar completamente conectada com a natureza e então, com Deus. Saudade de sentir aquele amor de Deus. Tenho saudade das brincadeiras de infância, da inocência levada a sério. Saudade das gargalhadas que já dei e da leveza que vez ou outra eu consegui trazer em minha bagagem na maioria das vezes um tanto quanto pesada demais. Saudade de celebrar a vida através da respiração, somente. Respirar com cuidado, atenção, profundidade e verdade,dá saudade, pode acreditar. Saudade dos "nãos" que eu devia ter dado e não soube. Saudade dos "sims" que eu não soube aproveitar. Saudade de quando tudo parecia uma eterna brincadeira, quando a vida não passava do momento presente e nada mais. Hoje, tão cheia de passado e de futuro que pouco sobra pra aproveitar do agora. Saudade de andar de bicicleta e ralar os joelhos. Saudade de pentear minha Barbie, trocar inúmeras vezes de roupa, achando que a vida adulta era apenas isto...uma vaidade e glamour saudáveis e nada mais. Saudade de pessoas com sorriso largo no rosto e uma alma completamente iluminada. Saudade de ser olhada por elas por inteiro, e não pelos pedaços como a maioria sabe fazer. Saudade dos papos furados, dos telefonemas longos que hoje eu tenho tão pouca paciência de dar.Saudade dos encontros face a face, quando face era sinônimo de cara a cara e não de facebook, um fake da gente mesmo. Saudade de verdades, de sinceridades, de colo, porto seguro, olhar que acalma, palavra que acolhe, abraço que cura. Saudade destas pessoas que fazem a diferença na vida da gente simplesmente por existir. Saudade da coragem que me visitou algumas vezes e uma imensa vontade de que ela volte pra ficar. Saudade de falar com Deus abertamente, de ouvir com atenção tudo aquilo que Ele tem pra me dizer e não só ouvir, agir conforme Ele me chama e convida a cada instante. Não que não fale com Ele, todos os dias, várias vezes, mas é que as vezes minha cabeça está ocupada demais pra me permitir ser aquilo que Ele mesmo acredita que eu sou. Saudade de ser eu mesma, anulada tantas vezes pela opinião das pessoas ao meu respeito. Saudade de quando o mundo não tinha tanta violência, tristeza, corrupção. Saudade do meu olhar de criança, tão cheio de amor pra tudo e tão cheio de esperança de um futuro melhor pra todos nós. Tenho saudades. De praias, de instantes, do primeiro encontro com Deus. De amigos que me devolveram pra mim mesma. Saudade de aprendizados e descobertas, de superações. Sinto saudades, mas não sento na calçada para viver cada uma delas. Sigo adiante e as me impulsionam a viver, conhecer, ter e ser tantas outras coisas que deixarão saudades. Estas, não me pesam a bagagem. Elas, ao contrário, tornam minha caminhada mais leve na certeza de que tantas outras coisas boas eu ainda posso viver. Minhas saudades me convidam a insistir, seguir adiante, olhar pra frente e acreditar que o melhor está por vir.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

OLHOS ABERTOS

Foto: autor desconhecido

Não via muito além de onde seus olhos eram capazes de alcançar. Já tinha visto, uma vez ou outra, nas poucas vezes que se permitiu sonhar. Mas não era habitual. Tinha medo de frustar seus sonhos e por isto sonhava pouco. Ou não, sonhava muito, mas evitava se lembrar e investir neles todos os dias. Os deixava de lado, num canto, pra caso um ou outro por sorte pudesse acontecer. Mas neles, investia pouco tempo com medo de disperdiça-los. E por isto, se permitia pouco. Estava se tornando rasa como seus sonhos, mas era profunda e isto a incomodava. Queria ver mais além, ir mais longe. Ter mais coragem, era tudo o que ela queria ter. Ousar sair por aí, sonhar todos os sonhos, viver tudo aquilo que se tem para viver. Medos, tinha vários, mas estava disposta a abandonar um a um daqueles que mais a incomodava, que mais a impedia de sair do lugar. Não, não estava sendo fácil enfrentá-los e combatê-los. As vezes doía, outras parecia impossível. Tantas outras chorava com medo de se permitir  mais, de ser mais. Tantas vezes na vida ouviu que tantos dos seus sonhos não eram possíveis que ficou com medo de alcançá-los. Mas agora, estava disposta a enfrentar as vozes dos outros que se repetiam na sua mente. Estava disposta a destruir as muralhas que ela mesma construiu ou permitiu que construíssem à sua frente. Não seria de um dia para a noite, não seria tão rápido, não seria tão simples, pelo contrário, trabalho árduo, desafiante e que exigiria dela muita força de vontade e persistência. Mas uma vez disposta, era possível. Ver além era agora uma necessidade urgente. Um centímetro de cada vez. Pouco a pouco, não importa. Mas a cada dia sua visão se abria um pouco mais. E um pouco mais ela mesma se permitia viver. Ser feliz, realizar, construir, conquistar. E porque não cair, falhar e levantar. Quando mais além ela via, mais ela mesmo era capaz de conhecer. E se reconhecer humana, com limites e falhas, mas que não a impediam de ser o melhor que pudesse ser e fazer o melhor que pudesse fazer. E podia muito. Abrir os olhos era agora a sua prioridade e com isto começou a enxergar a alegria, a felicidade, a paz, o sucesso e tudo aquilo que ela mesma era capaz de ser.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

CONFLITOS DE BONECA

Foto: autor desconhecido

Me guardo no armário do quarto da minha mãe. Prefiro ficar ali quietinha, escondida pra ninguém me achar. Gosto do colo que ela me dá, quando pára todas as outras brincadeiras que tem e lembra de me buscar. Me tira, acaricia os cabelos e cuida de mim. Ali, naquele quarto, me sinto protegida e amada embora as vezes abandonada e incompreendida. Sou uma boneca ou, pelo menos, gostaria de ser. Ficar quietinha no meu canto com a única responsabilidade de fazer feliz e sorrir aqueles que me encontram. Não, não sou uma boneca triste. Não é tristeza o que eu sinto. Sou alegre. Mas é que as vezes fico com muito medo, medo de ser largada de lado, medo das outras prioridades da minha mãe e que então eu enfim, tenha que crescer. É que chega uma hora que as bonecas perdem o sentido de ser e precisam crescer também, assim como as pessoas. É preciso abandonar os armários, sair das caixas e tomar outros rumos, outros ares, outras pessoas. Assumir quem é e seguir seu curso. Mas eu, que me acostumei tanto a ficar aqui, acomodadinha, sem ter nenhuma grande responsabilidade, tenho medo. Medo de não conseguir, de dar errado, de não dar conta. Ou até mesmo de dar tão certo, de conseguir tanto e deixar de ser boneca pra ser gente. É que sempre achei que gente é meio complicada, atribulada, cheio de tarefas e afazeres. Bonecas não, precisam apenas ser amadas e pronto. Minha vida de boneca é mais sem graça, eu sei, mas é menos arriscada e eu nunca gostei de correr riscos. Passei a maior parte da minha vida na caixa, guardada. Não, não tive dificuldades a não ser o meu conflito interno entre ser boneca ou gente, o que me perseguiu o tempo todo. Mas antes, não tinha a obrigação de crescer. Não tinha chegado a hora e o temor, quando vinha, eu deixava pra lá, pra depois e ia tocando em frente. Agora não. Chegou a hora. No armário já não me cabe mais, não que eu tenha sido expulsa, mas eu mesma não me encontro ali. Sempre tive vontade de ver como as coisas acontecem aqui do lado de fora e agora, agora que aqui estou, fico assustada e feliz ao mesmo tempo. Liberdade é coisa estranha pra quem a experimenta pela primeira vez. É gostoso, libertador, mas também amedronta, inquieta. Não quero voltar para o armário, mas não sei pra onde vou. Quer dizer, eu sei, mas é que as vezes acho que meus cabelos são de lã, meu corpo de espuma e que sou mais frágil do que realmente sou. Não me prepararam para viver a liberdade e agora, agora tenho que aprender sozinha. Crescer não é fácil, posso te dizer. Mas não vou recuar dos meus sonhos de ir cada vez mais além. Vai doer, eu sei. Vai machucar, to sentindo. Sei que vou cair, mas que posso me levantar. E sei que por dentro desta boneca de lã, corpo de espuma e sorriso doce no rosto, existe uma mulher forte, preparada e cheia de histórias de gente pra viver. Gente com tudo aquilo que toda gente tem, mas muito mais feliz do que eu possa imaginar.

sábado, 12 de janeiro de 2013

SUCESSO

Foto: autor desconhecido

Sucesso é ter poder e autonomia para ser quem é. Sucesso é se assumir, aceitar e acolher. Mais que isto, sucesso é ser, apesar do ter. O sucesso não depende dos outros, apenas de você mesmo. Porque ainda que tantos te ajudem a alcançá-lo, é você quem terá que construí-lo, assumi-lo, direcioná-lo. Sucesso é, portanto, responsabilidade.  É assumir a rédea da vida, é assumir o controle e a direção. Sucesso é autocontrole, é maturidade. Sucesso é acreditar em si mesmo, acima de tudo. Não, sucesso não é ter o poder e o dinheiro em suas mãos. Sucesso não é a arrogância e o autoritarismo.Sucesso não é apenas a conquista de bens, posses. Não, sucesso não é isto. Sucesso é ser feliz. Sucesso é ter saúde e celebrar a vida. Sucesso é fazer aquilo que gosta. Sucesso é amar sem medo e permitir ser amado. Sucesso é conquistar seus sonhos ainda que pequenos. É acordar de manhã, fazer uma caminhada, chamar de trabalho aquilo que se ama fazer. Sucesso é olhar pra dentro de si mesmo, com limites e qualidades, excessos e carências e ainda assim ser capaz de se admirar e amar. Se acolher. Se cuidar. Recomeçar. Sucesso é não temer quem se é, não temer crescer,amadurecer. Sucesso é ter calma consigo mesmo e com os outros. Sucesso é o respeito que se é capaz de ter. Sucesso é não desistir nos primeiros obstáculos,é ultrapassar barreiras, superar limites, mas respeitá-los. Sucesso é admitir que você nasceu pra dar certo e é isto que importa. Sucesso é não paralizar com a opinião dos outros, com as palavras malditas ao seu respeito. Sucesso é deixar prevalecer em você as palavras de vitória, de amor, de conquista. Sucesso é saber  jogar fora o que não presta e ficar com o que vale a pena. Sucesso é não dar ouvidos àquilo que não te acrescenta. Sucesso é revelar Deus às pessoas apenas pela sua forma de existir. Sucesso é dar certo, ainda que muitas vezes tudo pareça dar errado. Sucesso é não ter que ter o controle de tudo, mas saber que tudo está sob controle. Sucesso é confiar em si mesmo, no que é capaz. Sucesso, tantas vezes confundido. Tantas vezes mal interpretado. Poder, fama, dinheiro, posse. Este que leva as pessoas a deixarem de ser quem são, sua essência, para se acharem melhor que os outros. Não, não quero este sucesso. Pra mim, sucesso é todos estes outros, estas coisas de alma. Não é fácil assumi-lo, aceitá-lo. É preciso acreditar e se permitir o sucesso. Quantas vezes fomos criados e educados com limites, fragilidades apontadas como impedimento ao sucesso. Quantas vezes nos apresentam como não merecedores e assim passamos a nos ver. Mas é preciso olhar pra nós mesmos não com os olhos que os outros nos vêem, mas com nossos próprios olhos. Se olhar, observar, se enxergar como realmente é. E então perceber que dar certo só depende de você e o primeiro passo é acreditar que você já deu certo.