quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ABANDONADOS

Foto: autor desconhecido


A gente se esquece ou a gente ignora. A gente não tolera ou falta paciência pra suportar. Tantas coisas, tantas pessoas, tantas diferenças que não sabemos encarar. Abandonamos, no meio da rua, no meio da estrada, no meio da conversa, no meio da vida. No meio do caminho, pra trás de onde conseguimos chegar. A gente não está preparado ou não queremos nos preparar. Não suportamos diferenças e por isto criamos desavenças. Olhamos para o outro e quando não nos vemos nele, viramos o rosto. Viramos também quando nos vemos, de um ângulo que não gostaríamos de ver. Ignoramos, isto é fato. Ignoramos os bons costumes, as pessoas que pensam diferente de nós. Ignoramos a presença de quem fala o que não queremos ouvir. Ignoramos o mau gosto ou o bom gosto, dependendo do nosso estado de humor. Ignoramos a fala, os versos, os cantos. Deixamos pra trás aquilo que não queremos levar em nós e levamos tantas outras coisas tão ou ainda mais pesadas que aquelas. Arrastamos mágoas por não suportar o perdão. Levamos desaforo não por não saber nos posicionar. Carregamos o peso da angústia por não conseguirmos amar aquilo que somos. E de tanta ignorância, ficamos pesados, lentos de tanta bagagem inútil, apenas por não saber olhar pro outro, perdoar, compreender e até mesmo pedir ajuda pra seguir em frente. Abandonamos o outro, mas muitas vezes também abandonamos nós mesmos. Abandonamos nossos prazeres, paixões, aquilo que realmente somos a fim de satisfazer as cobranças do outro que não aceita em nós, nossos defeitos. Abandonamos e somos abandonados, igualmente. Enquanto poderíamos andar juntos, todos e todas as diferenças, isolamos o outro sem perceber que estamos mesmo isolados sem ninguém pra nos compreender. Tão mais fácil é estender o braço que cruzá-lo. Tão mais simples abrir um sorriso que frangir a testa. Tão melhor, tão mais bonito e tão maravilhoso seria se assim conseguíssemos ser, sem complicar aquilo que já tem tudo pra ser complexo, mas ao mesmo tempo é maravilhoso: a convivência.