quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CHAMO DE CORAGEM

Foto: Pollyanna Sapori

Pode parecer egoísmo, sei bem que parece. Mas não é nada disto que você pensa. É apenas o meu jeito de estar comigo mesmo, de captar a energia da água, da areia, do mar...da brisa e coqueiros, em silêncio. Sim, em silêncio. O som das crianças na areia, dos pais gritando, das risadas regadas a bebida, dos esportes, me afastam de mim mesma. Não que a alegria dos outros me incomode, pelo contrário, mas é que algumas vezes na vida é necessário estar consigo mesmo, isolado do mundo, da vida e da opinião dos outros pra se encontrar com quem realmente somos. Pode parecer depressão, melancolia, mas sei que não é. É apenas meu jeito de me permitir olhar por dentro de quem sou, enfrentar meus medos e monstros, confrontar quem pareço com quem realmente sou e encontrar um equilíbrio entre tudo isto. Egoísmo ou depressão, tristeza ou melancolia, todos dêem o nome que quiser. Eu prefiro chamar de coragem, esta que nos impulsiona a não temer nós mesmos, nem tanto a opinião dos outros e se alegrar consigo mesmo num ambiente assim, deserto, coberto de mar e areia. Gosto de respirar fundo a brisa que vem do mar, enquanto aprecio as folhas dos coqueiros realizando o seu balé. Gosto de andar descalça e ver apenas as minhas pegadas, marcando o caminhos que percorri e que me levam adiante. Gosto de ver as ondas que vão e vem, como a vida da gente, o tempo todo. Gosto de ouvir minha própria risada e respiração. Gosto de olhar ao redor e ver que tudo isto, assim como eu, é fruto da inspiração e amor de Deus. Sim, o mar e tudo isto foi feito pra mim. Não pra mim somente, mas estando só numa praia deserta, percebo que também, assim como os outros, sou presenteada com a vida que Deus me deu. O afastamento do som da cidade, das pessoas, me faz encontrar comigo mesma e me alegrar com quem realmente sou. Egoísmo ou depressão, pode parecer pra você. Prefiro chamar de coragem, esta satisfação que tenho em ser eu mesma, ainda que tenha muito a descobrir e a consertar em mim.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

NÓS E OS OUTROS

Foto: autor desconhecido

Este outro que não sei o nome, este que vejo nas ruas, nas esquinas, nas praças e avenidas. Este outro, que esbarra em você ou em mim, toda hora. O outro que não sei onde mora, o que sente. Não sei da vida do outro, apenas imagino ou pré-conceito sobre quem é. Este outro que está do lado de fora ou as vezes do lado de dentro da minha casa. O outro por quem não criei afeto ou criei, mas que por não ser eu, as vezes me esqueço que ainda existe. Este outro que tem casa ou não tem, que almoça todos os dias ou não. Este outro que é bom ou ruim, que perdoa ou vinga, este outro que nem mesmo sabe quem é e vive em busca de si mesmo, assim como muitas vezes eu também ando em busca de mim. Este outro que não tem endereço fixo ou que, pelo menos, não sei onde fica. Este outro que não tem rosto ou dele nem me recordo. O outro que conheço, o outro que esqueci. O outro que nunca vi. O outro, este mesmo que você sabe quem é. Este que lhe vem a memória ou não, mas que você sabe que está em algum lugar por aí, embora tente disfarçar. Este outro que pode ou não lhe ser familiar. O outro que não tem idade, não tem cor de pele e se o tem, pouco importa agora. Este outro que as vezes te cumprimenta e sorri como velho conhecido. O outro que dorme ao seu lado, que te carregou nos braços quando era pequeno.  O outro que te virou as costas, que traiu a amizade. O outro que esteve com você quando menos imaginou. O outro que te socorreu de um acidente, que lhe abriu os braços e as portas de casa. O outro que lhe deu comida ou negou. Este outro, que lhe trás boas ou más recordações. Este outro que não lhe vem a memória. O outro que não sou eu e nem você. Todos os outros, assim como nós que precisam de um pouco de atenção e de afeto. Todos os outros que precisam tanto de carinho, de perdão, de compaixão e entendimento, assim como nós mesmos precisamos. Somos como os outros, embora sejamos nós. O outro é a gente mesmo neles, eles mesmo em nós. E todos, sem exceção, estamos juntos nesta jornada da vida, ora com rosto, ora sem. Ora sem teto, ora sem chão. Todos, independente da classe, da idade, da raça, do credo, precisamos uns dos outros para fazer sentido, para ter sentido viver. Estamos para os outros como eles para nós, todos estamos juntos e é isto que torna viver algo tão especial.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O MEDO E AS ESCOLHAS

Foto: autor desconhecido



Vejo ao redor tantos motivos de tantas pessoas. Motivos para fazer escolhas que não as fará bem, embora aparentemente acreditem ser a melhor escolha para aquele momento. Um cigarro que alivia a ansiedade mas que adoece os pulmões e lhes tira, pouco a pouco, o fôlego que dá a vida. As drogas que afastam da duras realidades mas te levam pra um mundo de ilusões sem volta ou com uma volta aos cacos, menos que pela metade. Escolhas que parecem boas, mas que são momentâneas de efeitos muitas vezes permanentes. A escolha por um casamento por medo de ficar sozinho. E por medo de estar só, se dorme só todas as coisas mesmo que tendo alguém ao lado, na mesma cama. Escolha pela profissão dos sonhos do pai ou da mãe, mas que não é o seu próprio sonho. Alegra-se o coração daqueles que ama mas angustia o próprio coração realizando aquilo que nunca se teve vontade de realizar. Vejo pessoas tomando escolhas e decisões, ou protelando decisões por medo e não por vontade. Suportar um casamento que já acabou por medo da separação, com ou sem filhos. A escolha do homem errado, que espanca, maltrata, simplesmente porque não há mais o amor próprio necessário que te faz gritar o basta, chega. Vejo muita gente, a grande maioria, tomando rumos na vida dos quais poderão se arrepender ou não, poderão se acomodar acreditando ser o único caminho possível, a única saída. Tenho medo do medo, porque ele quando vem arrasta as pessoas para lugares que não deveria ir, que não merecia passar. Por conta do medo se deixa de viver coisas tão belas, tão maravilhosas que tenho certeza que iriam viver. Tenho medo de ter medo. Não gosto das ciladas que ele é capaz de criar. A escolha de dizer sim quando na verdade se quer dizer o não. A escolha de não viver aquilo que a vida lhe chama a viver, uma viagem, uma aventura, um amor, simplesmente por medo de avião, de altura ou do fim. Peço pelos medos que tenho e que possa ter. Para que sejam afastados de mim com total violência, para que não me impeçam de viver aquilo que eu vim viver nesta vida. Todos nós fomos chamados e escolhidos para viver coisas grandiosas e que o medo não nos impeça de ser tudo isto que viemos ser. Tenho medo da decisão das pessoas ao meu redor, o medo do abandono, o medo da decepção, o medo da rejeição, o medo da solidão, o medo da não aceitação, medo de não ser querido, de não ser capaz. Medo daquilo que não se tem controle, de tudo o que está por vir e não sabemos. Estes medos que eu e você também enfrentamos vez ou outra na vida. Devemos ter medo do medo, mas não o medo que nos paralisa nele, mas o medo que nos faz antes de tudo afastá-lo, antes que ele se instale em nós. Saibamos assustar os nossos medos com ousadia, a ousadia de acreditar que aquilo que queremos é possível de se realizar e que tenhamos coragem de não dar ouvidos aos outros para as escolhas que devemos fazer. Que façamos as nossas escolhas com tamanha maturidade, coragem e ousadia que não há medo que nos impeça e nos faça arrepender dos caminhos que tomarmos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PROCESSO DE FEITURA

Foto: autor desconhecido    


Somos uma obra em eterna construção. Alguns dias colocamos os tijolos meio fora de lugar ou fazemos o cimento com tanta pressa que sobra areia e não sustenta quase nada. Em alguns casos, o alicerce não foi colocado com segurança ou, as vezes, nem colocado foi e aí, desmoronamentos acontecem diversas vezes no decorrer da obra, atrasando o amadurecimento e o avanço da construção. Estamos constantemente em obras e por isto, devemos nos desculpar pelos transtornos. Caminhos que atravessam as ruas, britas jogadas na calçada do outro. O barulho que causamos nos vizinhos, o incômodo dos nossos defeitos. Obra inacabada, eu sei. Tantas e tantas vezes atravessamos o terreno das outras pessoas, avançamos o lote, fazemos a metragem de forma incorreta. E de ferragem sobram os ferrões que a gente solta naqueles que não nos compreende ou a gente simplesmente acha que são obrigados a nos aturar. Todos estamos em obras. Uns mais adiantados que os outros. Algumas obras mais bonitas que as outras, mais perfeitas, com alicerces mais sólidos e mais seguros. Outras como ruínas, há anos no mesmo lugar. Obras pra tudo que é gente, pra tudo que é jeito, mas todos assim, em obras. Estamos em processo de feitura, eu sei. E por isto devemos ter paciência consigo mesmo e com os outros. Respeitar os terrenos, suportar os transtornos e seguir em frente sem olhar pra obra do vizinho com se ele sim tivesse a obra melhor que a sua, mas cuidar da própria obra. Seguir a cada dia, assentando os tijolos, os pisos, fazendo a melhor massa de cimento que se puder fazer. Colocar as janelas e abrí-las pra deixar a luz entrar. Deixar a porta fechada para não entrar quem não é convidado, mas colocar a campanhia para autorizar aqueles que quiserem vir ao nosso encontro, ser a nossa companhia. Estamos em obras e enquanto existirmos é assim que deve ser, porque não nos deve importar a obra acabada e finalizada, mas a perfeição do processo de construção que pudermos fazer.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MUITO PRAZER

Foto: Getty images  



As vezes ela adormece. Mas envelhecer ou morrer, isto nunca. Não permito que isto aconteça. Dependo dela pra ser quem devo ser. Minha alma, minha verdade, quem verdadeiramente eu sou. Ainda que aqui, do lado de fora, tudo pareça diferente. As aparências enganam. Não envelheci como pareço ou, se envelheci, é porque a deixei dormindo demais do lado de dentro. No fundo, lá no fundo,eu queria ser ela a vida inteira e posso sê-la se a permitir correr, brincar e sorrir dentro de mim. Posso deixá-la sonhar o quanto quiser, sem conhecer os medos e as inseguranças que o mundo nos oferece e nos paralisa. Gosto de vê-la como é, mas muitas vezes, confesso, tudo a minha volta insiste em me fazer esquecê-la, deixá- la de lado e vestir a capa da maturidade que muitas vezes é séria ou chata demais. A vida foi feita para ela, não pra mim. Preciso deixá-la livre para ser aquilo que Deus traçou para que fosse. Ser leve, ser solta, sincera e cheia de autenticidade. Nada de mentiras ou vez ou outra, pontualmente, um faz de conta que nos é tão necessário para sobreviver as durezas que a vida nos traz. Uma esperança que transcende a face e as desesperanças dos outros. Um sorriso capaz de apagar qualquer tristeza e transformar as lágrimas em lágrimas de felicidade. Ela é assim e vez ou outra preciso estar sozinha pra me encontrar com ela. Vez ou outra, ainda que só, não consigo encontrar a sua companhia. Algumas pessoas têm a capacidade de me devolver a ela e juntas, ah, somos capazes de coisas inimagináveis e lindas ao mesmo tempo. Sei que ela vive em mim o tempo todo. Ainda que eu tente calar seu riso ou esconder seu rosto. Quando me alegro de verdade, ela aparece em meu sorriso. Quando estou ao vento, quando escuto uma música e sempre, sempre que estou com Deus ali ela está. Em todas as minhas orações, ela vem orar comigo. Talvez por isto eu goste tanto de estar em oração....porque tenho sua companhia e estou mais perto daquilo que realmente sou. Ela, sou eu. De uma maneira tão inteira, tão intensa, tão real que nem eu mesma sei a beleza que isto tem. Mas sei que toda vez que nos unimos, Deus sorri e se alegra porque nos fez assim, para sermos uma. Que eu não me afaste e nem a deixe dormir além da conta. Que ela apenas repouse o necessário para acordar me devolvendo tudo aquilo que eu sou, o tempo todo, a vida inteira. Sem ela, sou metade, não sou eu. Minha alma, minha essência...como esta menininha ruiva, de olhos fechados e sorriso no rosto. Ruiva e feliz. Tranquilamente feliz e realizada. Pra quem não tem a capacidade de me ver assim, muito prazer...esta sou eu.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O TEMPO E EU

Foto: autor desconhecido
Não sei se o meu problema com o tempo e o de todo mundo está na dificuldade em administrá-lo ou na dificuldade em elencar prioridades. No meu caso, transito por uma coisa e outra sem medo de atravessar.  Minhas prioridades as vezes são distorcidas. Coloco na frente de mim mesmo, situações e questões que muitas vezes me impedirão de andar. As vezes, coloco na frente a opinião das pessoas, os comentários maldosos, embora eu já tenha aprendido muito a não dar tanta importância para eles. Outras vezes, as preocupações cotidianas com dinheiro, trabalho passam muito à frente de outras tantas e tão mais necessárias como uma caminhada no parque, tarde com amigos, sofá sem fazer nada. O tempo talvez esteja a meu favor, eu é que não costumo estar a favor dele. Com pressa, não pode parar pra me esperar. Empacada, deixo ele seguir lamentado o quanto ele já se foi. Sei que com você aí do outro lado é mais ou menos a mesma coisa em grande parte das vezes. Sei que também culpa o tempo, embora muitas vezes não devia. Não, não atribua responsabilidades demais a ele que só faz aquilo que sabe, melhor do que nós fazer, seguir o seu rumo. Nós é que devemos aprender com ele, seguir em frente. E seguir não é apenas fazer aquilo que se tem que fazer, mas fazer aquilo que se quer fazer. Sabe aquela vontade que bate de parar tudo no meio de uma tarde e ir tomar sorvete na praça? Faça. Nunca se sabe que outra oportunidade terá de realizar isto por você. As nossas perfeições nos deixam completamente imperfeitos. Então, siga aquilo que acha certo, correto e principalmente, aquilo que lhe faz bem. A primeira pessoa que deve fazer bem a você é você mesmo, não os outros. Então, não espere deles as respostas para seus caminhos, as decisões para o seu futuro. Faça as suas apostas em você. Não espere o tempo passar, nem culpe por ele já ter ido o quanto já se foi. Aproveite o tempo que tem agora, este mesmo, neste instante. Os ponteiros só estarão neste mesmo lugar que agora, amanhã....e não será mais o mesmo dia, da mesma maneira. Então, realize agora o que o seu tempo de agora lhe oferece e experimente nunca mais ter do que se lamentar, nem o tempo passado e nem as ansiedades do tempo que virá. Amanhã é outro dia, outro tempo.