sexta-feira, 28 de maio de 2010

ASSIM DEVE SER

Foto: J. Pedro Martins
Esta coragem. Esta audácia de ser quem é e fazer aquilo que acredita. Tomar atitudes, partir para ação. Sair da poltrona. Estar ao ar livre, onde tudo pode acontecer. Perder o medo. Não ter insegurança. Estar consciente de tudo aquilo que se quer e de tudo aquilo que de fato é. Agir e não só pensar. Sobretudo, viver e permitir-se. Ter a liberdade, viver a liberdade. Usar o livre arbítrio. Agir. Reagir. Fazer acontecer aquilo que se sonha. Saltar. Pular. Cantar. Gritar. Calar. Meditar. Relaxar. Saber dizer não, quando se quer dizer não. Dizer sim com sinceridade. Ser verdadeiro e honesto consigo mesmo e suas emoções. Ser quem você é. Viver a vida que se propôs. Não carregar mágoas. Perdoar as ofensas. Não remoer a raiva. Preencher o coração de amor. As veias de tranquilidade. A alma de serenidade. Ter a mente leve. Ser leve, sem peso nas bagagens. Libertar a coluna dos pesos dos problemas. Deixar pra trás o que não vale a pena. Sorrir. Sorrir de novo e quantas vezes se fizerem necessárias. Rezar. Não somente orações repetidas mas conversar com Deus, como quem conversa com o melhor amigo. Ajudar o próximo. Amar as pessoas. Alegrar o coração. Aventurar-se. Correr riscos sem o risco de se arrepender. Ser. Estar. Em cada momento de cada vez. Aceitar o que não se muda. Mudar o que é necessário. Cada coisa em seu lugar e a gente na gente mesmo. Esquecer os outros. Libertar-se dos preconceitos. Viver a vida, simplesmente. E amar a si mesmo, da maneira mais honesta que puder amar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Miopia


Foto: Isabela Daguer
Completamente míope. Uma miopia que não pode ser detectada por nenhum oftalmologista. Não aparece nos exames clínicos mas se revela no cotidiano. Não usava óculos, também, não lhe era necessário. Os óculos não a fariam enxergar aquilo que não conseguia ver, por um tipo de cegueira que não impedia de ver os outros, apenas a si mesma. Se olhava diariamente no espelho. Vezes mais motivada, passava um batom rosa choque e saia satisfeita. Nos dias mais tristes, lavava o rosto e no máximo passava um rímel pra disfarçar os olhos caídos que o desânimo lhe dava. Olhava-se, mas não se enxergava de fato. Sentia-se bonita em alguns dias, mas não tanto. Também não se achava a pior das criaturas, mas tão pouco especial entre elas. Era como as outras pessoas que circulavam por aí, nas ruas de uma cidade grande ou pequena, tanto faz. Uma beleza comum, numa vida comum. Por não ter a capacidade de enxergar quem era, permitia-se ser aquilo que os outros desejavam que fosse. Não era feliz deste jeito, mas era a forma com que fazia-se um pouco mais interessante aos olhos de quem convivia com ela. Namorava, mas não quem gostaria de namorar. Namorava quem a havia escolhido e, por isto, abria mão de si mesma e de seus sonhos, pra arrastar uma imagem falsa de amor que lhe fazia sentir mais amada que estar só. Não sabia conviver apenas consigo mesmo, por isto, não se permitia solteira. Era uma farsa pra si mesma, uma pessoa que desconhecia ser. Mesmo com medo, muito medo, do que iria descobrir sobre si mesma, decidiu se ver numa lente de aumento. Talvez, ela lhe revelasse o que era por dentro, por detrás dos poros abertos resultados de uma adolescência com espinhas. E embora desviasse o olhar, tentasse fugir, a imagem que lhe foi refletida era de alguém muito melhor do que podia imaginar, com uma coragem suficiente pra virar o jogo e ser alguém que talvez na infância tivesse ensaiado ser.

domingo, 16 de maio de 2010

Na boa!

Foto: J. Pedro Martins
Não gosto de ordens e nem desordens. Prefiro que me deixem à vontade pra fazer aquilo que eu quiser. Melhor, prefiro ser quem sou sem a interferência de ninguém. Não sou mais criança pra ser moldada por opiniões de adultos. Tenho as minhas próprias e são muitas, teimosas. Não gosto de palpites e nem fofocas ao meu respeito. Em vão, acreditam que eu sou aquilo que imaginam que eu seja, poucos conhecem a verdade. Ninguém pára pra conhecer alguém tal qual é. Insistem em criar rótulos, expectativas que fantasiam a realidade dos outros, como se já não bastasse a fantasia que criam pra si mesmos. Sim, sou teimosa e as vezes pareço arrogante com esta atitude de me deixem quieta. Mas é um sentimento de preservação da espécie de mim mesmo, como se disto dependesse a minha sobrevivência, espero que entendam. Eu mesma já me coloco regras demais que não consigo seguir. Não quero incluir as dos outros e tento me livrar daquelas que já enfiaram na minha goela abaixo. Ando sufocada com com tudo isto. Me liberto, quando olho pra mim mesma assim do alto, ou à beira de um rio qualquer. Daí me vejo como sou, limites e virtudes que se misturam e criam esta unicidade que há em mim. Apesar de tudo, gosto do que vejo e sei que vale a pena acreditar nisto. Fora de mim, ouço apenas uma voz que me fala macio e me guia pelo caminho. Nunca me fez falhar, senão quando preferi ouvir a mim mesma. Pra esta, abro mão da teimosia de insistir nas minhas verdades. Os outros, tento não ouvir e não me abalar. Embora, não seja fácil impedir que os outros atropelem nosso caminho. Mas daqui do alto, vejo o quanto andei e quanto ainda tenho que caminhar. Sigo em frente, na certeza de que não estarei sozinha, mas serei eu mesma o tempo inteiro com quem tiver que estar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Minha menina


Foto: J. Pedro Martins
Como toda criança, ela não perde os detalhes. Olha ao redor com um sorriso contagiante. Vê beleza no feio, no antiestético. Aprecia as diferenças, aquelas que assusta a maioria das pessoas, inclusive a mim mesmo. Olha para as ruas, as pessoas em meio ao trânsito. Não entende, as vezes entende, porque a maioria anda tão estressada e mal humorada. Repara sem fitar os olhos com arrogância. Salta de alegria quando alguma coisa dá certo. Se entristece quando outras vezes, seus sonhos dão errado. Mas não se entrega. Permanece de pé, com este olhar faceiro de menina levada. Destas que apesar de pequenas, sabem o que o quer. Nunca foi de bater o pé, ou fazer pirraça. Soube em todo o tempo, aceitar as coisas com serenidade. Quisera permanecesse assim, quando criança deixasse de ser. Difícil, porque serenidade é coisa de criança que a gente perde com o tempo, e não devia. Toda prosa, encanta a todos que por ela passam. Dizem ver uma luz nos olhos, ao redor ou até mesmo em seu sorriso. Escolhida de Deus, disse uma profecia. Também acho que deve ser. Sempre foi boa menina esta moça de trancinhas que me persegue. Vez ou outra cometeu umas bobagens, umas ansiedades quaisquer. Mas tem um coração gigante, um abraço sincero e gostoso e um jeitinho que só ela tem de me fazer seguir adiante e levar comigo, quem mais quiser.

sábado, 1 de maio de 2010

A vida é trabalho


Foto: Nuno Manuel Baptista
Viver dá trabalho. Não é necessário uma carga horário de quarenta horas semanais. As vinte e quatro horas diárias de vida é uma carga muito mais pesada. Remuneração não vem em dinheiro. Há de ter suas recompensas por um trabalho bem feito. A saúde pra aproveitar os tempos livres e ter disposição para executar as tarefas. Um bom sono que é pra recuperar as energias para o dia seguinte. A paz de espírito que é pra não se tornar pesado, mais pesado que a vida possa carregar. Ser uma companhia agradável que é pra não ficar sozinho, porque trabalhar sozinho esta jornada da vida não deve ser nenhum pouco prazeiroso, pode acreditar. Viver é um trabalho contínuo, sem hora pra parar. Não sobra hora extra, não há banco de horas. Integral, neste caso, é o tempo inteiro, dia e noite. Um trabalho que com ou sem capacitação você é contratado tão logo seja concebido. E ninguém te perguntou se você queria fazer, simplesmente te colocam aqui e pronto. Desistir? Há aqueles que desistem, jogam a toalha, pulam da ponte ou janela, tomam veneno. Bobagem! Viver é para os dispostos mesmo. Para os que acreditam na vida e consideram que vale a pena. Viver é um trabalho para os que a merecem, todos que ainda vivem.