sábado, 11 de fevereiro de 2012

ANDO DEVAGAR



Não, eu não gosto de radicalidades. Estas coisas que acontecem, que tiram o chão, que mudam totalmente o rumo das coisas para que uma outra mudança aconteça. Raspar o cabelo pra se mostrar autêntica. Saltar de páraquedas pra dizer que é livre. Parar de comer pra emagrecer. Adoecer pra dar valor à saúde. Não, nada disto me comove e muito menos me convence. Não gosto de radicalidades e não quero ter que passar por elas pra seguir o caminho reservado pra mim. Gosto de aprender sem grandes conflitos, observar o passo dos outros e ditar meu ritmo. Gosto de, no silêncio, ouvir a voz de Deus, sem ter que ouvir o grito Dele em meio a tanto barulho que eu possa fazer. Não quero as radicalidades, por mim, abro mão de cada uma delas. Isto não me garante que passe a vida inteira aprendendo sem conflitos, mas me proporciona aprender grande parte das coisas sem passar por terremotos e vulcões. Não, eu não gosto de radicalidades. Estes sacrifícios absurdos que as pessoas fazem pra alcançar aquilo que desejam. Tão mais simples é incorporar novos hábitos, adquirir boas maneiras, dar um passo de cada vez. Os imediatismos movem as radicalidades. Esta coisa da ansiedade, do ter agora e não amanhã. De não saber esperar, de ter que provar aos outros que se é capaz, como se as vitórias e conquistas só fossem possíveis na correria, ignorando cada passo que o vencedor dá durante o seu trajeto. Não, não gosto de nada disto. Prefiro seguir sempre adiante, sem recuar, sem vacilar, mas respeitar meus limites e a cada dia dar um passo novo rumo ao lugar que quero chegar. Se quero emagrecer, faço caminhadas, uma atividade física ou outra e moldo minha alimentação aos hábitos mais saudáveis. Cortos os excessos e as carências, porque tanto um quanto o outro nos fazem mal. Se quero alcançar um sonho que é caro, economizo a cada dia, sempre um pouco, pacientemente, até chegar ao valor que tanto desejo. Se quero correr, aperto o passo da caminhada que é pro corpo não sofrer com a corrida repentina e o coração se acostumar ao batimento mais forte. Tudo mais lentamente, mais pacientemente. Não, não pense que é fácil e tão menos que eu tiro de letra este jeito manso de viver. Longe disto. Mas é assim que acredito ser melhor, é assim que minha alma pede pra viver, embora vez ou outra eu a atropele com meus sentimentos tolos de satisfação aos outros e a mim mesma, imediatamente. Ando devagar, porque conheço a pressa e sei que com ela o risco é sempre maior. Lentamente, aprecio a paisagem, aprendo com os passos, conheço meus limites e minha caminhada fica cada vez mais segura pra chegar ao fim, ainda que lentamente.

Um comentário:

  1. "Ando devagar, porque conheço a pressa e sei que com ela o risco é sempre maior." - quando li o "ando devagar", me veio logo à cabeça a música de Almir Sater, hehe.

    E esta mesma frase também tive o prazer etéreo de conhecer e aprendi, sob duras penas, que o melhor a fazer é realmente apreciar a paisagem e esperar a chegada do trem, que insiste em demorar a chegar.

    Grande abraço.

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