quinta-feira, 18 de abril de 2013

NAS MÃOS DO OLEIRO

Foto: autor desconhecido

Não, não estou pronta. Mas na maioria das vezes penso estar. Quando penso, me frustro. Frustro pelas rachadura que ainda não foram fechadas e tantas que insistem em abrir ainda mais, ameaçando a construção de quem eu sou. Frustro quando olho para os lados tortos, as bordas arranhadas e um formato que eu não gostaria de ter, como se eu pudesse escolher a minha forma melhor do que quem me fez. Não, não estou pronta. Preciso me lembrar disto a cada vez que vejo minhas fraquezas, que esbarro em minhas misérias. Não, não são erros. Sou esculpida por uma mão que não falha, que não erra e que sabe muito bem a preciosidade que eu sou e vou me tornar. Eu é que me olho erroneamente. Me vejo superficialmente, com um olhar tão míope, tão distorcido que sou incapaz de perceber o quanto é lindo este meu interminável processo de feitura. Sim, interminável. O oleiro que me toma em suas mãos é perfeccionista, não faz nada que saia errado e está sempre atento aos detalhes. Muitas vezes me amassa toda de novo e recomeça o trabalho. Quando há rachaduras, não pensa duas vezes sem me desmanchar por inteiro e fazer tudo novo. E eu mesma, quantas e quantas vezes, estrago o seu acabamento perfeito,com minha mania de controle, de tomar o rumo das coisas e insistir ser aquilo que não fui criada pra ser. Um vaso, um vaso nas mãos do oleiro. Inacabado, mas lindo. Lindo porque perfeito é este processo de feitura. As mãos úmidas no barro, esculpindo a minha história,construindo o meu caminho, a minha vida. Me enchendo de tudo aquilo que serei capaz de carregar sem fardo, sem peso,apenas grata pela utilidade que Ele me deu. Não, não estou pronta. E que bom que não esteja. Assim, não tenho o compromisso de ser perfeita, nem serei. Assim, posso olhar pra minhas fragilidades na certeza de que serão fortalecidas, moldadas, aperfeiçoadas pelo caminho. A mim, basta me permitir. A mim, basta me entregar nas mãos deste que tem todo o amor e paciência em me fazer, em me tornar aquilo que Ele quer. Posso não ter a forma que escolhi, posso não estar pronta no tempo que determinei pra mim. Mas quando penso no oleiro que me toca, ainda que seu toque seja pesado demais em alguns momentos, percebo que sou capaz de ser a mais perfeita obra da terra. Única, amada, planejada e feita com total dedicação. Ele não se cansa, então eu não posso me cansar. Se Ele não desiste de mim, eu jamais tenho o direito de desistir. Se Ele me olha com os olhos de quem faz uma obra prima, quem sou eu para acreditar que já não sou. Não, não estou pronta. E neste processo não quero ser impedimento ou barreira, mas quero colaborar com meu oleiro. Quero ser moldada, refeita, restaurada, desmanchada se preciso for. O seu trabalho em mim não pode ser em vão. Ele sonhou comigo. Ele me ama. Ele já separou um espaço pra mim na prateleira de suas mais preciosas obras. Está lá, vazio, guardado, pronto pra me receber. E eu quero estar. Por mim, por Ele, por todos aqueles que investem neste processo de ser quem sou. Eu me permito. Eu te permito trabalhar em mim. Vem, molda-me. Faça-me. Refaça-me. Usa-me. Enche-me. Sou tua, em tuas mãos estou. Faça como quiser e me ajude a aceitar a força e o cuidado de tuas mãos. Ora leve, ora firme. Cada toque no seu tempo. Cada um tem seu propósito. Não temerei. Que eu seja o vaso novo que sonhou. Que eu ocupe o espaço que reservou pra mim. E que eu me alegre em todo este processo e ajude a tantos outros a perceber que vale a pena.

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