Mais do que quem realmente era, importava-lhe o que viria a ser. Mal sabia das coisas presentes, das brincadeiras de infância, amarelinha ou pular corda. Não tinha paciência com bonecas, muito menos sonhava ser professora. Passava grande parte do tempo imaginando o futuro e isto era a sua melhor brincadeira de criança. Imaginava-se de perua a executiva. Carros importados, cargos elevados. E desde já, ensaiava as broncas nos subordinados que teria, inclusive o marido. Podia se ver andando no shopping, numa tarde bem no meio da semana, cheia de sacolas e quem sabe até um motorista particular. Gostava de programas de moda, da maquiagem importada da mãe. Não sabia do desgosto, nem do mal gosto. Gostava daquilo que era bom e imediato. Não sabia esperar, fosse um presente, uma pessoa ou até mesmo o futuro que era imenso e cheio de possibilidades. Ela não queria muitas, apenas uma lhe bastava: ser uma mulher de sucesso. Não, não o sucesso como mãe, esposa e uma sabedoria que poucas mulheres conseguem ter. Sucesso, para ela, era o poder e a sensualidade que só uma mulher consegue ter. Desejava ser admirada pelas coisas que possuia, não pelas que conquistava no percurso da vida. Aliás, o percurso que ela considerava longo e demorado, tal era a sua urgência em chegar logo onde desejava chegar. Infância, não sabia o seu significado. Desejava a vida adulta de uma maneira voraz. Não se conformava com o tempo que a vida leva pra acontecer e, desde já, calçava os sapatos e vestia-se das jóias da mãe e corria para o espelho. Todos os dias esta era a sua rotina. Uma maneira de fazer o tempo girar, de chegar mais perto daquilo que lhe era importante e negar a realidade que tanto lhe incomodava. Queria-se mulher, o quanto antes possível e já amava a mulher que viria a ser: fútil e sem conteúdo, autoritária e bem sucedida. Desconfio que esta auto-estima lhe será útil, quando seu sonho de menina lhe roubar a alegria que ela nem imagina ser capaz de existir.
Há 7 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário