Foto: Victor de Almeida
Quando crescer, serei aquilo que vejo nos outros. Serei muito do que vejo dos meus pais. Observo como eles agem e reagem às circunstâncias. Vejo seus conflitos e como os enfrentam. Conheço o caráter através da honestidade ou desonestidade dos adultos ao meu redor. Eles são minha referência. Serei como o vencedor deste duelo, aquilo que prevalecer, o certo ou o errado, assim serei. Sou criança e me inspiro naquilo que vejo as pessoas que amam fazerem. Se os vejo beber, acredito que é bom. Se bebem e depois dirigem, penso que não é nada demais e assim um dia eu também o farei. Quando convivo com gritarias entre meus pais, percebo que a relação entre homens e mulheres é sempre conflituosa e baseada no tom de voz. Quanto mais alto o grito, mais poder o tenho, penso. Se vejo meu pai murmurando do trabalho ou sendo desonesto no trato comercial, penso que trabalho é levar vantagem em cima dos outros. Quando me presenteiam no lugar de me dar afeto, acredito que os presentes compram o amor e que não é preciso demonstrá-lo. Terei dificuldades em lidar com as pessoas se a intolerância fizer parte da minha infância. Se ouvir palavras de preconceito por toda a minha vida, não saberei conviver com as diferenças raciais e físicas entre as pessoas. Preciso conviver com as diversas classes sociais enquanto criança para que quando adulta, eu possa não apenas conviver como ajudar os mais miseráveis. Se me ensinam a doar brinquedos velhos quando ganho novos, aprendo que acumular é disperdício e que ser feliz é ser capaz de estender ao outro aquilo que ele não é capaz de ter sozinho. Quando crescer, quero ser uma adulta melhor do que muitos que vejo. Mas se vejo muitos adultos ruins, me faltam referências para buscar aquilo que é melhor. Quero ser uma pessoa bacana, alguém capaz de doar amor em gestos e palavras. Fazer o bem àqueles que precisam. Ter confiança em mim mesmo para alcançar os meus objetivos. Ter uma boa auto-estima, porque fui amada enquanto pequena e souberam valorizar aquilo que tive de melhor, me encorajando a aceitar as minhas fraquezas. Sei que posso ser uma adulta mais bacana do que os adultos que vejo, só preciso que alguém já adulto me mostre como sê-lo de uma maneira sincera e honesta. Mas enquanto isto, o tempo passa e estou crescendo. Não dá pra esperar ser melhor quando se tem uma criança por perto. Há de sê-lo hoje e urgente. Tenho medo de amanhã amanhecer uma adulta e não gostar do que vejo no espelho. Ter que enfrentar divãs ou ainda, cometer muitos erros e mágoas com quem não os merecia. Ter medo de fracassos, não tolerar meus limites, ter dificuldades com afeto e não acreditar em mim mesmo e nem nos outros. Quando crescer quero ser alguém diferente, alguém de fato especial. Peço então a sua ajuda, querido adulto.É urgente, é agora. Não pense que sou apenas uma criança quando amanhã serei uma adulta como você. Pegue na minha mão e me ajude a ser como mereço e como o mundo merece e precisa. Dê uma adulta bacana de presente emprestando a mim o seu melhor, suas melhores referências. E tenho certeza, não somente eu, mas o mundo será transformado através do seu gesto.
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