Deitado na praça, me sinto mais tranquilo e menos sozinho. Engano-me com a companhia dos passantes. As crianças brincando na praça, pareciam os netos que não tive jeito de ter. Fecho meus olhos e me imagino correndo com elas. Sinto-me feliz por recebê-las em minha casa, com quintal amplo e cheio de possibilidades para brincar. Aos domingos veem aos montes. É o momento que me sinto mais vivo e alegre, domingo de manhã. Acordo cedo, tomo um banho na bica de lavar as mãos, penteio o cabelo com o pente velho que carrego a mais ou menos quarenta anos. Vejo-as chegando, as recebo com um sorriso. Quando me é permito, passeio entre elas, troco palavras. Outras vezes, na maioria, me contento em apenas ouvi-las sorrir. Uma infância que eu deixei pra trás em meio a tantas dores que preferi esquecer. Sou feliz, com os pássaros que crio livremente pelas árvores. Tenho o céu estrelado como o teto da minha noite. Me alegro com a brisa do dia, com o vento batendo nas árvores. Meu despertador é a vida que bate em mim e lambe os meus cabelos despenteados. Tenho Deus como companhia diária. Com ele converso, troco segredos e até danço uma cantiga ou outra. Aqui, me sinto protegido do mundo, sem cercas elétricas ou alarmes. Sinto que vivo a vida intensamente, numa paz interior que me acompanha. Não troco por nada o que sou, meus pés descalços prontos pra receber a energia da terra, a energia da vida. Tenho o prazer de estar vivo e receber todas as pessoas do mundo de portas e braços abertos. Assim, sinto que sou mais perto de Deus, assim me sinto melhor que tantos outros que se sentem tão mal, tendo tanto.
Há 7 anos
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