Andava com excesso de bagagem. Ninguém da alfândega apareceu, nos últimos 30 anos, para lhe punir ou questionar o que trazia na bagagem. Acredita que os excessos lhe eram necessários. Não sabia da inutilidade. Com pressa, não parou pra pensar. Recostava a bagagem vez ou outra no caminho, trocava de mão e seguia em frente. Dores na coluna, sentia. As dores nada mais eram que o ônus de seguir adiante com todo o fardo que lhe é cabível. A vida era assim, carregar karmas, pensava. E era preciso seguir em frente, sem deixar nada para trás. Seria pecado não dar conta de tudo aquilo que levava. E a mala seguia capenga, arrastada, esfolada, mas seguia junto ao seu corpo. Não importava se de ônibus, trem, avião ou mesmo a pé. Jogada de um lado para outro durante a trajetória, a mala mantinha-se travada com tudo o que havia lá dentro. O que havia ali, eu não sei. Mas não parecia fácil de carregar. Posso dizer isto pela forma com que ela anda, as pernas cansadas, os olhos fundos. A respiração ofegante revela o sufoco que a vida lhe traz. Era hora de parar em alguma estação, aproveitar o atraso do trem e rever a vida. Abrir a mala, revirar passado. Muita coisa poderia ser deixada para trás, pois já não fazia parte do futuro que lhe era reservado. Mas não havia tempo, não para ela. Andava demasiadamente apressada para prestar atenção a si mesmo. Mal sabia do quanto seu corpo era leve, do quanto suas pernas poderia caminhar e até onde era capaz de chegar se para trás deixasse a mala que sua vida havia se tornado.
Há 7 anos
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