terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A arte de se ter um amigo

Embora tivesse este nome, não tinha asas. Embora não tivesse asas, soube voar. Voou para os detalhes da minha vida, para as verdades que tenho aqui dentro. Ouviu desabafos, secou minhas lágrimas. Dividiu minhas dores e as suas próprias. Soube ser amigo. Soube ser fiel. Embora pequeno, muitas vezes foi pai ou mãe. Embora um cachorro, foi a companhia que muitos namorados não souberam ser. Foi feliz enquanto pode. Saltou com os pássaros, caçou insetos. Escondeu biscoitos na terra. Pegou carrapichos. Mordeu canelas, latiu pessoas, comemorou vitórias. Foi seletivo nas amizades, me ensinando a não confiar em qualquer pessoa. Suportou as dores, o preconceito, a velhice. Não desistiu fácil diante da vida, muito menos dos obstáculos. Soube amar quem o amava e ignorar aqueles que dele não gostavam. Também aprendi isto com ele. Me doou sua vida, sua existência e sua companhia. Acompanhou minhas vitórias e até mesmo meus fracassos. Angústias e decepções. Não era apenas um cachorro. Parecia gente. Mais parecido comigo que qualquer outra pessoa. Me entendia bem melhor que todos ao meu redor. E me levava adiante, mesmo quando não mais conseguia andar com segurança. Me fazia sentir segura a cada retorno pra casa. Ao seu lado, nunca estive só. E tenho certeza que nem ele estava só enquanto estive com ele. Estamos juntos, mesmo depois que ele se foi. Não foi voando porque suas patas, doídas, já não impulsionavam seu voo. Mas foi em paz, longe e agora deve correr tranquilo entre os arbustos, perseguir as borboletas e repousar no colo de Deus.
Homenagem ao Ícaro, meu cãozinho Yorkshire que se foi há 3 meses aos 11 anos de idade.

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