terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tudo num regador

Foto: Daniel Oliveira

Aprendeu a regar a rosa com constância. Já havia deixado outras morrerem por maus tratos. Deixou de ouvir a sua avó que sempre dizia que o segredo era cuidar diariamente para que pudesse sobreviver. Pensou que a rosa dispensava esta atenção. Acreditava que bastava molhar assim, quando quisesse. Fazia as coisas quando bem quisesse e entendesse e assim, fazia com as rosas, como se fossem coisas, como se pudessem esperar. Com esta rosa, agiu diferente. Cansada estava de ficar sozinha, descobriu nela a sua companhia. Dividia com ela suas angústias e alegrias. Conversava com ela enquanto regava e a regava todos os dias, sem pressa pra acabar. Aprendeu a cuidar da rosa e aprendeu a ser cuidada por ela. A rosa lhe ensinou o que a avó com suas palavras doces não a haviam convencido. A rosa lhe ensinou a importância do cuidado, do apreço, da atenção. Aprendeu que amar não basta, que admiração não é suficiente. Há de regar e cuidar do que se ama. Há de dar ouvidos o que tem a dizer. Há de perceber a importância e beleza que aquele ser traz para sua vida. Todos os dias, Maria falava com a rosa todos os dias. Mas não falava sozinha. A rosa lhe dava conselhos e lhe confidenciava segredos. Os amores só florescem quando regados, só não morrem se cuidados. Nenhum amor é eterno se não for eterno os instantes que temos com ele, dizia ela. E Maria que aprendeu a cuidar da rosa, aprendia a regar seus amores.

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