terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Outro final pro mesmo filme

Foto: Ana Mokarzel

Joaquina não acreditou. Desta vez, pensou que seria diferente. Teve alguma dúvida no começo, já que não é moça de se jogar sem medir os riscos. É arisca, esperta. Tinhosa, esta menina. Tem coisas na vida que só Joaquina via, mais ninguém. Nem tinha olhos maiores que o da maioria das outras moças da cidade, mas enxergava coisas que nenhuma delas via ou havia visto antes. Devia ser culpa dos óculos, embora eu duvide disto. O que não via, Joaquina imaginava. E bota imaginação fértil nesta menina. Não tinha adubo melhor no mundo não. Mas nem toda esta imaginação e intuição de Joaquina evitou que ela se decepcionasse mais uma vez. Aliás, só piora. Não que tenha se decepcionado exatamente igual às vezes de antes. Estava um pouco diferente, é verdade. Mas parece, pelo menos pra ela, que lá na frente vai terminar tudo igualzinho ela costumava ver. O moço diz que quer. Joaquina se apaixonada e resolve se envolver. O moço fica com medo e desaparece, ou faz de desentendido que é a mesma coisa de fazer desaparecer a coragem que homem costuma não ter. Era feito um filme repetido que ela já tava cansada de assistir. Logo Joaquina, que nunca havia ido ao cinema, mas já era feito protagonista de novela das seis. Mas desta última vez, ela chegou a pensar que o filme era outro. Entrou na sessão feito gente grande. Se aprontou com outro vestido e sentou no banco, ao lado da janela, que era feito o banco de cinema, e se preparou para as cenas de um amor que definitivamente daria certo. A sessão começou mas era como se não tivesse começado, já que nada acontecia. Mocinho e mocinha estavam distantes. Nada de beijos, nem declarações de amor. E já era os 30 minutos iniciais de uma história que parecia não ter começado e, portanto, parecia não ter fim. Joaquina não acreditou. Ela havia se preparado para uma cena nova, uma história diferente da sua velha e conhecida. Ela estava disposta a acreditar no amor que acontecia de verdade e não naquelas que ela via nas ruas e na sua vida tão cheia de promessas não cumpridas. Joaquina sabia-se uma mulher bonita. Despertava a atenção dos rapazes da cidade, era verdade. Mas não se sabe porque, eles não se aproximavam tanto dela quanto ela gostaria. Não sei se medo do seu jeito autêntico, ou qualquer outra bobagem que impede as pessoas de viver o amor. Joaquina não tinha mais medo de amar. O que se sabe, é que apesar da decepção de Joaquina com aquela noite, mais uma vez ela iria ao cinema. Lembro que, não o cinema dos outros, no cinema da gente, mas no cinema que ela acreditava ser o exibidor da sua vida. Lá, ela conseguia ver do lado de fora o que acontecia dentro dela. Mais uma vez, numa outra noite como em tantas outras próximas, Joaquina sentaria ali naquela poltrona imaginando um novo filme, de novos atores, de histórias mais emocionantes. Não era moça de desistir fácil. Insistia naquela viagem diária em busca do amor. Sentava sempre no mesmo banco, olhava sempre a mesma janela. E embora já tivesse assistido a todos os filmes da locadora da sua imaginação, passaria o tempo que fosse preciso buscando outros filmes, novas histórias e um amor como os de cinema, daqueles que ela acredita encontrar qualquer dia, naquela próxima estação.


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