O riso provoca a alegria. O riso insinua a felicidade. Ele é cúmplice, aproxima, desperta. O riso desperta desejo. O riso é revelador da intimidade com o outro. É parceiro no silêncio das palavras. É som que ressoa pela casa. Contamina de riso o ambiente. Vira epidemia de risos sem sentido, embora todos os risos são regados de sentido o tempo todo. O riso é gargalhada. O riso é disfarce que convence. Convence da alegria que a gente nem sente e que passa a sentir a partir do riso. O riso é o começo de tudo. Quisera que também fosse o final. Devíamos enterrar pessoas, histórias e relacionamentos com uma gostosa risada. O riso é o valor que damos às coisas. O riso deixa à mostra o que valeu a pena. Tudo pode ir embora, o riso permanece. É o que resta de tudo o que se foi. Ele sempre acontece. Vezes aqui dentro. Vezes pro lado de fora. E é preciso externalizar o riso. Colocar pra fora a risada que se sente aqui dentro e partilhar o riso com quem já aprendeu a rir de si mesmo e tantos outros. O riso é para o outro, não do outro. Rir do outro é deboche, não é riso. Falo do riso que ama, que acaricia os afetos. O riso das afinidades. O riso do reconhecimento. O riso da compreensão. É o riso que mantém viva a chama da vida. Quem não ri, parece morto. Morreu com batimentos cardíacos que não mais oscilam. Já o riso é que acelera o coração, que causa a arritmia cardíaca necessária para viver as emoções. A arritmia da vida. Esta música que só o riso possibilita. O riso é portas e janelas escancaradas. O riso olha para o lado de fora e chama pra dentro. O riso é rua, festa, muita gente e alegria. O riso nunca é solitário ainda que dado sozinho. O riso é dois, três, vários. O riso é a delícia da vida. O sabor e o tempero que afasta a falta de gosto. Tempera desgostos. O riso dá gosto. Gosto do sexo, da amizade, da conversa. O gosto do bate-papo com os amigos. O gosto de uma confidência. O gosto de um abraço. O gosto de um beijo esperado. Ou inesperado. O gosto do gosto. O riso é o gosto. O gozo da vida.
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